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domingo, 25 de janeiro de 2009

‘Excesso de zelo metodológico’

João Batista Libanio *

Adital -
Há marcante diferença entre certos ambientes acadêmicos de abertura e diálogo e a repercussão midiática de discussões aí travadas. Some-se a tal um traço da psicologia brasileira, pouco afeita ao debate sereno das idéias sem imiscuir aspectos pessoais, afetivos e emocionais. E quando o tema carrega por si mesmo explosivos ideológicos, o jogo soberano das idéias se faz ainda mais dificultado.

Os dois artigos de Clodovis Boff e as críticas que lhes foram feitas por abalizados teólogos da libertação têm causado certa perplexidade num público pouco acostumado a tais confrontos. Até então a teologia da libertação parecia uma fortaleza na defesa dos pobres somente atacada por adversários situados no outro pólo ideológico ou eclesial. E agora, alguém que tem um passado profundamente ligado á opção pelos pobres e não renuncia, de modo nenhum, a prosseguir aderindo a ela, traz reparos à maneira como teólogos da libertação têm procedido nesse campo.

Santo Inácio aconselha aos orientadores dos Exercícios Espirituais respeitar a verdade do outro, ser acolhedor e mais disposto a salvar a proposição do próximo do que a condená-la (EE. EE. 22). Nesse espírito inaciano, com certa dose de mineirice, tentarei entrar no coração da afirmação dos contendentes, entendê-la e só depois oferecer observações.

Clodovis Boff parte da preocupação radical de mostrar em que consiste a real episteme da teologia. Ela deve partir do princípio da fé em Jesus Cristo. E a fé em Jesus Cristo se configura pelas Escrituras cristãs, como ele já em outros escritos insistia. E as Escrituras cristãs englobam a Sagrada Escritura e o que a reflexão da fé eclesial elaborou em termos dogmáticos ao longo do século. Ao se pôr o pobre no seu lugar, corre-se o risco de encurtar a teologia, de ideologizá-la, perdendo de vista a referência primeira e principial de Jesus Cristo. Em termos abstratos, nenhum teólogo discordaria de tal posição. Portanto, o nó da discussão não está aí.

A pergunta continua: com que critério ler e entender a fé em Jesus Cristo. Por mais ortodoxa que pareça ser a fé em Jesus Cristo, ela tem sido ideologizada ao longo dos séculos por muitos interesses ou isolada dos grandes problemas sociais. Os teólogos da libertação avançam dizendo que o lugar para entender e interpretar a fé em Jesus Cristo são os pobres. Não se trata somente do lugar social, mas também do lugar de intelecção. E a razão vem do próprio Cristo que quis manifestar-se, revelar-se, ele mesmo pobre e em íntima comunhão com os pobres. Fora dessa perspectiva, a compreensão de Jesus Cristo pode ser distorcida. E este é o ponto central. E disso a teologia da libertação não abre mão.

Cl. Boff teria razão em termos teóricos e abstratos. Ele alerta os teólogos da libertação para que o lugar do pobre se entenda em íntima articulação com a fé em Jesus Cristo. Os pobres não podem descolar da pessoa de Jesus. E recebem de Jesus toda sua luz. É uma luz intensa e profunda, porque os pobres entram no plano da revelação e da salvação de modo central por opção do próprio Deus.

A preocupação, embora legítima de Cl. Boff com o aspecto da fé em Jesus como princípio da teologia, manifestada de maneira contundente no artigo da REB (Cl. Boff: Volta ao fundamento: réplica, in REB 68 (2008), n. 272, p. 892-927), corre o risco de ser interpretada por pessoas alheias as filigranas teológicas como deslegitimante da opção pelos pobres. Esta não entra em questão, já que sua evangelicidade está fora de qualquer discussão.

Os reparos teóricos à primazia dada ao pobre pelos teólogos da libertação em nome da pureza metodológica da teologia soam antes acadêmicos que pastorais. Cl. Boff adverte para o fato de que falhas metodológicas acarretam graves conseqüências para a vivência da fé e para a pastoral. Ele não está de acordo com a posição de teólogos da libertação que minimizam sua posição, julgando-a exageradamente ortodoxa e que preferem "errar com os pobres" do que cultivar metodologia asséptica.

Sem retirar em nada minha profunda estima por Cl. Boff e pelo valor de seus escritos, de que me considero devedor, custa-me entender esse excesso de zelo metodológico em relação a uma teologia cujo serviço maior à Igreja da América Latina e de todo o mundo consistiu precisamente em afirmar com força e clareza a centralidade do pobre para além do lugar social, ao atingir a própria compreensão de Jesus. A questão central para mim gira em torno do critério de que dispomos para interpretar a fé em Jesus. E Jesus mesmo se autodefiniu na dupla realidade de Filho em face de Deus e de identificado com os pobres. Portanto, essas duas coordenadas permitem-me saber o que significa a fé em Jesus, princípio da teologia. Sem os pobres, não sei bem como pensar teologicamente a revelação. Essa precedência do pobre não contradiz ao aspecto principial da fé em Jesus, mas dá-lhe concretude, consistência, conteúdo, impedindo que a fé se perca em abstrações e alienações. Os risco do desvio da fé em Jesus pela ausência dos pobres é muito maior do que o risco de deturpar a figura de Jesus pelo excesso, mesmo ideológico, da relevância do pobre. Talvez tal aspecto falte ao rigor teórico do texto de Cl. Boff.

Os teólogos da libertação aprendemos dessa exigência metodológica de Cl. Boff manter bem clara a relação cristológica da opção pelos pobres. Aqui soa a frase de Bento XVI no discurso inaugural de Aparecida: "a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza". E, por sua vez, a intuição e a prática da teologia da libertação mantêm toda teologia alerta para não se perder em reflexões ortodoxas, seguras, mas sem relevância existencial, social e pastoral. O debate, em vez de desgastar-nos, serve para manter ainda mais firme e clara a opção pelos pobres na elaboração teológica e na prática pastoral - contribuição da teologia da libertação - e o olhar claro e sem rebuço para a pessoa de Cristo que se fez pobre e que nos propõe os pobres como aqueles com que ele se identificou e a partir de quem o interpretamos segundo sua vontade.

[Publicado e enviado por Jornal de Opinão - www.jornaldeopiniao.com.br]


* SJ, é teólogo, escritor e colunista do Jornal de Opinião

sábado, 24 de janeiro de 2009

Sugestão de enciclopédia on line

Acredito que essa Enciclopédia Popular on line possa ser de grande utilidade para os agentes de pastorais e leigos que queiram aprofundar um pouco mais seus conhecimentos. É uma enciclopédia totalmente em língua portuguesa e que traz os principais temas e assuntos da fé católica. Boa leitura.

http://www.ecclesia.pt/catolicopedia/

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A Tradição

  1. Vivemos em tempos pós-modernos onde a realidade é marcada pela fragmentação do saber, pelo pensamento débil, subjetivismo, relativismo e fundamentalismo. Nessa fragmentação surge uma mescla de pensamentos e valores que mesmo aparentemente opostos se unem numa nova forma de organização. As instituições e a autoridade estão em crise juntamente com os valores que foram cristalizados no passado. Assim, nesse contexto temos também o surgimento de movimentos tradicionalistas. No seio da Igreja Católica Apostólica Romana isso também é verificável. Estes parecem cultivar uma forma de “Tradição” estática, fixa, rígida e ligada, sobretudo, a pensamentos e práticas medievais.
  2. O conceito de Tradição não é unívoco o que traz muitas dificuldades e dificultou a sua compreensão ao longo da história. Assim a tentativa de definição se faz necessário antes de procurarmos analisar as conseqüências. O avanço na compreensão da noção de Tradição pelo Concílio Vaticano II é de fundamental importância para uma sã compreensão da Tradição como parte integrante da Revelação e não como um apêndice desnecessário a fé cristã.
  3. O conceito de Tradição é importante para a auto-compreensão da Igreja, para o diálogo ecumênico e para a ação pastoral da Igreja. A Tradição faz parte mesma da natureza de uma religião e esse fato ganha importância maior quando se refere ao cristianismo e, sobretudo, ao catolicismo, uma vez que a valorização da Tradição é um dos elementos distintivos do Catolicismo frente ao protestantismo.
  4. No início do século XX surgiram na Europa movimentos que procuraram voltar às fontes da Igreja, motivados por estudos sobre liturgia, santos Padres, descoberta de novos manuscritos bíblicos, utilização de novos métodos de interpretação bíblica. Esses elementos influenciaram o pensamento do Segundo Concílio Vaticano (1962-1965). No que tange ao conceito de Tradição este concilio deu-nos uma definição da natureza, do objeto e da importância (Latourelle, 1972). Passa-se a conceber a tradição como viva, em movimento e não como algo estático. A Tradição é dinâmica.
Paulo Giovanni Pereira
paulusiohannes@gmail.com